Oi, tudo bem? Prazer, Eu Te Amo. Mas pode me chamar de Bom Dia, de Vírgula, de Obrigada...Olha, são tantas novas denominações que fico perdidinha... Oi? Ah...Antigamente era diferente, sim. Ninguem saía por aí dizendo à toa, Ei! Eu Te Amo! Era algo raro, sabe? Modéstia à parte, era um daqueles momentos considerados especiais. Olha só, está vendo? Só de lembrar, as exclamações se arrepiam todas! Ai,ai... Desculpe, a senhora me perguntava se...Ah! O que me trouxe até o consultório. Bem...Acho que é o excesso de trabalho que ironicamente me provocou aquele vazio de improdutividade,sabe? É o famoso dilema do século XXI. O de trocar a qualidade pela quantidade. Não me sinto mais fazendo a diferença no mundo. É como dormir sendo a pessoa mais influente do universo e acordar sendo apenas mais uma no meio da multidão. Me diga a senhora se isso não é deprimente? Eu acho. Cansei. Preciso, sem vírgula nem bom dia, me sentir valorizada novamente. Quero ser requisitada quando o amor estiver realmente aflito, batendo à porta, precisando sair da garganta para encontrar o sorriso. Quero ouvir o som dos susupiros, os gemidos, a umidade das lágrimas brotando nos olhos de quem me fala, ou me ver refletida nas lágrimas de quem me ouve bem baixinho ao pé do ouvido. Quero a poesia do meu lado, quero o cantarolar sem motivo, quero a alegria de viver porque simplesmente faço parte do vocabulário dos momentos especiais. Quero tudo isso, doutora. Ah, sim..Claro. Tenho a consciência de que para conseguir essa valorização, preciso da ajuda da sinceridade, da lealdade. E é aí que o bicho pega, não é? Palavras em falta, hoje em dia. Acho até que caíram em desuso.Mas não vou desistir porque sei que ainda existe gente por aí que me usa com propriedade. São poucas, verdade. Rola um boato de que estão em extinção. Fato é que elas persistem, fazem sua parte, e me evocam só quando oportuno, necessário. E é por elas que eu estou aqui,sabe?Nosso tempo acabou?Bem que me disseram que passava rápido! Sim, sem problema. Marco outra consulta para mesmo horário na semana que vem. Muito obrigada e até lá, Dra. Esperança.


