sexta-feira, 8 de abril de 2011

Realengo

Sonhei...

E no meu sonho vestia branco, mochila nas costas, dentro dela a paz.

Recarregava o meu peito com esperança e atirava a esmo pelas salas e corredores. Sorria.

Derrubava sem dó todo o medo, agonia, sofrimento, pânico.Caíam diante de mim, agonizantes.

Sufoquei o ódio, dilacerei a loucura, assassinei a covardia. A piedade, dela não se apiedou.

Estendi a mão para crianças que, encharcadas pelo amor, encontravam o paraíso.

Um lençol branco elevei aos céus, como a bandeira de um novo mundo. A felicidade era real.

Mas o sonho não. 

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Dia de sol

Abriu a cortina e sentiu tristeza. O dia estava lindo. Não combinava. Queria ver as nuvens carregadas no céu, queria ouvir a chuva forte, batendo no chão, varrendo tudo e molhando o vidro. Queria que o mundo também participasse do seu luto. Sentia o sofrimento de toda uma vida. Doía na alma, doía no corpo. Sabia que nada mais seria como antes. Era hora de dizer adeus.
Mas como se despedir de tudo?O que fazer com os planos de viver juntos, de comprar um carro, de mobiliar o apartamento, de casar naquela igrejinha branca no fim da rua? Como não ter os filhos que já tinham nome? Como não brigar e fazer as pazes?Como não surpreender, não decepcionar, não trazer alegria?
O dia não combinava. Teimava em dizer que a felicidade não havia morrido. Que crianças que já tinham nome não paravam de nascer. Que casais juntavam os trapos e escolhiam a almofada pro sofá da sala. Que a igrejinha branca, no final da rua, brilhava reluzente ao calor do sol. O dia que não combinava dizia, que apesar da dor, as possibilidades continuavam seu trabalho de abrir caminho para muitos outros destinos.
O dia que não combinava estava ali para relembrar que o amor é dependente. Não nasceu para caminhar sozinho. Precisa de quatro pés, dois corações. Menos que isso não vinga, não desabrocha. Morre.
Tirou o véu que cobria o rosto e enxugou os restos mortais das lágrimas que ainda rolavam sobre a pele. O luto precisava terminar. Ninguem disse que seria fácil. Mas o dia estava lindo e era chegada a hora de dizer adeus para a saudade dolorida de tudo aquilo que não viveu.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pica pau é o C...Meu nome é Zé Pinóquio!

Falar a verdade nunca foi fácil pra mim. Sempre inventei muita história. Era um grande cara de pau.Acho que usava a mentira pra ganhar o respeito da minha galera. É aquela coisa...Nunca fui o Brad Pitt. Tinha as pernas curtas e um nariz enorme. Mas tinha outras paradas grandes também, valeu? Ahahahahaha...Outras paradas, tamanho GG, sacou? Dã. Enquanto meu velho ralava pra me criar sozinho,eu só queria saber de farra. Faltava aula pra ver showzinho de marionete...Ficava amarradão. Mas aí conheci uma galera meio barra pesada. Só me davam linha. Numa dessas acabei me enrolando. Meti meu nariz onde não era chamado, dei aquela crescida e acabei tomando a maior volta dos caras. Fiquei perdido no mundo. Mas mesmo com a cabeça cheia de grilo, não deixava de fazer merda. Chegou o dia que em que eu disse pra mim: Parei. Vou voltar pro barraco, ficar do lado do meu velho. Aí tú imagina a minha piração quando descubro que ele caiu no mundo pra me procurar? Que tinha ido lá pras bandas da curtição da maresia? Fiquei de cara dura, irmão. Meu velho, metido em rabo de baleia por minha causa? Não ia deixar rolar! Meti o pé e resgatei o velho. Tava quase sendo engolido, brother. Maior covardia. Quando eu olho pra trás fico chocado com o rumo que deixei minha vida tomar. Tudo rolando alí, debaixo do meu nariz.
A gente aprende com os erros, né cara. Depois dessa, nasci de novo. Virei um homem de verdade! Parei com as más companhias, parei de seguir pras bandas da maresia. Esse mundo de caozeiro eu deixei pra tras. Lá pros becos de Brasília, sacou? Hahahahah, Caô, Brasília...Pode crer...Dã.